A mais recente série da Marvel, Agatha Desde Sempre, apresenta uma versão ousada e desinibida do estúdio, reimaginando a vilã de WandaVision, Agatha Harkness, como uma figura central em uma trama cheia de reviravoltas e referências à cultura pop. Kathryn Hahn retorna com toda sua energia cômica e sinistra, aprofundando o que já foi um dos papéis mais memoráveis do universo Marvel na televisão. Ao longo da série, testemunhamos a busca de Agatha para recuperar seus poderes, agora com novos aliados, adversários e mistérios, em uma trama que combina terror, humor e magia.
Situada inicialmente em Westview novamente, o palco de eventos caóticos em WandaVision, a série cria um sentimento de nostalgia, ao mesmo tempo que traz um frescor que renova o interesse por este cenário conhecido. A sensação de estar em um “palco de teatro isolado”, onde a narrativa tem a liberdade de explorar os personagens e suas interações, confere à série uma originalidade rara em produções da Marvel. Sob a direção de Jac Schaeffer, Agatha Desde Sempre assume riscos que resultam em um conteúdo que é quase experimental para os padrões do estúdio, ampliando o universo místico com nuances e profundidade.
A estética da série também merece destaque, abandonando a grandiosidade típica do UCM e apostando em cenários simples, efeitos práticos e figurinos que remetem a produções de baixo orçamento. Esse visual artesanal cria uma atmosfera que se afasta da típica sofisticação visual da Marvel, trazendo uma vibração “indie” e permitindo que o foco se mantenha nas atuações e no desenvolvimento de personagens. Ao contrário do que muitos poderiam esperar, essa escolha estética engrandece a série, tornando a magia de Agatha mais tangível e a narrativa mais íntima.
O elenco é um dos pontos altos da série, com a presença de nomes de peso como Patti LuPone e Aubrey Plaza, além de novos talentos como Joe Locke, conhecido por seu papel em Heartstopper. Juntos, eles criam uma dinâmica que mescla tensão e leveza, com diálogos cheios de humor sombrio e interações surpreendentes. As personalidades distintas de cada bruxa adicionam camadas de complexidade à trama, enquanto a própria Agatha tenta equilibrar sua sede de poder com a nova responsabilidade de liderar um clã de bruxas improváveis.
É interessante como Agatha Desde Sempre consegue preservar o legado de WandaVision ao mesmo tempo em que traz algo completamente novo. O roteiro explora o folclore das bruxas de maneira criativa, revisitando o conceito de irmandade mágica e os desafios que vêm com a busca pelo poder. A série consegue, de forma engenhosa, dialogar com o cânone da Marvel, mas sem perder seu foco particular em Agatha, que surge não apenas como uma vilã, mas também como uma figura ambígua, com conflitos internos e motivações complexas.
A narrativa de cada episódio, com uma duração entre 30 a 40 minutos, permite que a série se aprofunde nas relações e nos dilemas pessoais dos personagens sem pressa. Cada arco é trabalhado com cuidado, dando espaço para que a trama evolua de forma orgânica. Esse ritmo torna Agatha Desde Sempre uma experiência divertida e imersiva, fugindo das típicas pressões e fórmulas do estúdio e apresentando um lado mais despreocupado e, ao mesmo tempo, mais maduro do universo Marvel.
Um dos aspectos mais cativantes da série é sua capacidade de equilibrar a fantasia com um toque de teatralidade. Agatha se entrega à “cantoria” metafórica, como se estivesse em uma peça musical, brincando com a narrativa e exibindo uma irreverência única. Esta é, sem dúvida, uma faceta menos explorada pela Marvel como um todo, uma “criança de teatro” cheia de energia, que se destaca por ignorar as notas de estúdio e se deixar levar pela espontaneidade de seus personagens.
O roteiro de Schaeffer e a direção cuidadosa criam uma atmosfera encantadora que não se preocupa em agradar a todos os públicos, mas sim em explorar as camadas mais obscuras e humorísticas dos seus personagens. Ao colocar Agatha em uma jornada que é, ao mesmo tempo, pessoal e mítica, a série oferece uma nova perspectiva sobre o que significa ser uma bruxa neste universo e o que é preciso sacrificar para alcançar seus objetivos.
Com Agatha Desde Sempre, a Marvel não apenas resgata a personagem que conquistou os fãs em WandaVision, mas também expande o universo das bruxas em uma narrativa envolvente e original. Ao final, a série nos lembra que, em meio ao caos e às ambições, há uma essência de liberdade na magia que transcende o bem e o mal – e que, para Agatha, essa jornada é apenas o começo.