Quando o antigo mutante Apocalipse (Oscar Isaac, de Star Wars – O Despertar da Força) acorda depois de dormir um sono milenar, ele se encontra na civilização de 1983, dominada por humanos “normais” e “menos evoluídos”, segundo os seus parâmetros, e por isso decide eliminá-los para dar espaço aos seus “filhos” mais poderosos, os mutantes. Cabe ao Professor Xavier (James McAvoy), e a seus alunos, encontrar uma maneira de pará-lo.
Antes de Apocalipse começar a provocar o “apocalipse”, no entanto, os alunos da Escola Xavier Para Jovens Superdotados acham um tempo para assistir a O Retorno de Jedi e concordam que “o terceiro é sempre o pior”, como dito pela Jean Grey de Sophie Turner. Mas se a fala à direcionada ao terceiro volume da “trilogia original”, dirigido por Brett Ratner e odiado pelos fãs, ou à uma autoavaliação desta sequência de X-Men: Primeira Classe e X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, não fica claro.
As cenas iniciais são promissoras, com uma estrutura que acena para o primeiro filme — o primeiro de muitos acenos, diga-se de passagem —, do diretor Bryan Singer. Ele abre com um flashback das atividades de Apocalipse no Egito, seguido pelo desenvolvimento traumático dos poderes de um personagem e uma luta em uma gaiola (exatamente a mesma estrutura de X-Men – O Filme).
O problema é que há personagens demais em cena para apresentar na primeira hora de projeção. Assim, somos apresentados, em um ritmo frenético, a Ciclope (Tye Sheridan) e Noturno (Kodi Smit-McPhee), imediatamente charmosos, enquanto Nicholas Hoult e James McAvoy voltam rapidamente aos seus papéis, embora Hoult não tenha muito que fazer como o Fera — um perigo latente em um longa com elenco tão grande quanto este. Quem brilha, mais uma vez, é Evan Peters como Mercúrio — sua cena em slow motion ao som de Sweet Dreams é de uma tecnicidade incomparável e deixa o Mercúrio de Vingadores: Era de Ultron chupando o dedo no além-túmulo.
Infelizmente, nem todos os personagens brilham em Apocalipse. Jean Grey, por vezes, soa mais chata do que insegura (mal que se aplicava também à Jean de Famke Janssen). A Mística de Jennifer Lawrence, embora mais sombria do que as interpretações anteriores da atriz para a personagem, está longe de se mostrar a assassina sangue-frio interpretada por Rebecca Romijn na primeira trilogia. Ela está mais para uma Katniss (Jogos Vorazes) com superpoderes — o que é uma pena, já que o filme podia ter usado um pouco mais do lado soturno da personagem, ao invés de dar a ela tantos discursos “inspiradores”. Mas nem Turner nem Lawrence estragam o filme.
O real problema da sequência está em seus vilões: Apocalipse e seus quatro cavaleiros. A Tempestade de Alexandra Shipp recebe pouco o que fazer, dada a “primeira” aparição desta importante personagem neste universo de mutantes (jovens), enquanto o Anjo de Ben Hardy e a Psylocke de Olivia Munn são ferozes, porém sem nuances em suas trajetórias. Michael Fassbender é quem tem um arco mais interessante com Magneto, mas acaba ofuscado por En Sabah Nur, ou Apocalipse, que é tão desinteressante quanto mal desenvolvido, já que é um mutante que pode passar de um corpo para outro, levando os poderes do seu novo “anfitrião” a cada passagem — o que pode explicar o motivo de suas habilidades não serem tão bem definidas ao longo do filme.
Isaac tenta dar algum peso às motivações de Apocalipse e em alguns momentos consegue, mesmo escondido sob uma maquiagem que faz o Thanos do Universo Marvel parecer bonito. Porém, o real problema do personagem com o século XX é tão ralo que não passa de “poder e punição”, como diversos outros vilões. Somos apenas informados de que sua grande habilidade é persuadir os mutantes para o seu lado e, mesmo levando em consideração a natureza danificada daqueles que tem como alvo, seus argumentos parecem fracos e nada inspiradores.
Além disso, um filme que faz questão de lembrar o Holocausto, mas que num clímax chocante destrói cidades inteiras com uma poeira computacional e vaporiza suas populações, sequer se dando ao trabalho de um olhar momentâneo no horror das pessoas, mostra um espetacular mau gosto.
Em comparação com o enérgico e ousado Dias de um Futuro Esquecido, tudo parece muito pesado e até forçado em X-Men: Apocalipse. Quantas vezes o Professor Xavier terá de nos lembrar de que ainda existe um pouco de bondade em Magneto antes de cair na real? Quantas vezes Mística pode negar seu lado heroína e ainda ser levada a sério? É realmente necessário reproduzir tantas cenas já vistas nos capítulos anteriores? Quanto mais o filme remontava essas cenas, mais eu desejava estar assistindo a elas ao invés deste filme.